Não sei bem em que momento da
minha vida tiramos essas fotos. Quando tento lembrar da minha infância vejo um
véu turvando todas as minhas lembranças. Eu nunca dei importância em escrever um diário. Tínhamos tantas atividades quando éramos pequenos que nem passava
pelas nossas cabeças sentar e escrever um. Hoje vejo que se tivesse escrito
teria mais dados de uma infância que nem sei se foi boa ou má, eu sei que foi.
Mas voltando ao que de fato
importa. Essa foto cresceu comigo. Muitas vezes, e digo muitas, olhava para
elas e questionava-me quando realmente tinha sido. Nessa sessão de negativos,
que seguramente tenham sido feitas com uma máquina Kodac com flash extraível, e
se não me engano se chamava Love, eu estava com minha mãe e minhas irmãs.
Lembro-me bem da camiseta branca de gola alta. Era de um tecido elástico. Eu
realmente odiava essa camiseta porque era muito difícil de colocá-la. Será que era
pelo tamanho da minha cabeça? Era grande. Sim, não nego. Voltando no tempo, quando escrevi sobre meu tio Atílio, dizem as minhas irmãs que ele me chamava de Rui
Barbosa…
“Rui Barbosa foi um político, diplomata, advogado e jurista
brasileiro. Representou o Brasil na Conferência de Haia, foi reconhecido como “O Águia de
Haia”. Foi membro fundador da
Academia Brasileira de Letras e seu presidente entre 1908 e 1919.”
…Portanto, fico honrado com essa alcunha, pois isso significa que
aqueles que tinham cabeça grande eram tidos como pessoas inteligentes.
Outros detalhes dessas fotos, é o meu cabelo. Em várias delas eu estou com
o mesmo corte de cabelo, portanto as dato do mesmo ano.
As muretinhas que podemos ver
atrás de nós, faz-me lembrar de um certo dia, de um certo mês e de um certo
ano, quando ao sair com minha mãe de compras, passamos por uma loja de
brinquedos e eu vi um fogãozinho de ferro. (Naquela época, os brinquedos
normalmente eram feitos com esse material). Logo me apaixonei. Acho que isso
poderia parecer estranho para minha mãe porque um menino que não gostava de
carrinhos sempre optava por brinquedos de meninas. Naquele tempo, ainda havia muito
preconceito. Vivi numa época onde passávamos pelo período final de uma ditadura
militar. Hoje em dia há muitos questionamentos a respeito de se um menino pode
ou não brincar com brinquedos “rotulados” para meninas.
Mas, o meu fogão de ferro era
lindo. Consigo lembrar do cheiro peculiar daquele brinquedo. Era uma mistura de
ferro com óleo de máquina. Acho que o fabricante punha o lubrificante para não
enferrujar…conjunturas da minha cabeça. Pois bem, nessa muretinha, justo a da
direita da foto, lembro-me de estar com ele e descobrindo cada detalhes. Mais
tarde foi usado para cozinhar arroz em panelinhas de ferro pequenas e fritar
bolachas água e sal com óleo de verdade e aquecidos com vela. Nessa brincadeira
sempre estava minha irmã Andréia e a nossa querida amiga Ana Paula. Recordo
também de usármos Toddy de banana. Quando lembro desse produto muito consumido na
minha infância sinto o estômago revolto. (Acho que a experiencia não deu muito
certo).
Na área, que está atrás de nós,
quando era dia de limpeza, bricávamos de escorregar. Púnhamos sabão em pó e com o auxílio da vassoura
fazíamos a espuma e de joelhos impulsionávamos contra a parede e deslizávamos pelos
ladrilhos. Conclusão, o joelho ficava cheio de pedrinhas dentro da pele.
Chegamos muitos anos depois a essa conclusão.
Bom, acho que por hoje é só. Não
posso ficar muito tempo no passado embora eu goste tanto daqui. Já terei tempo
para estar com todos vocês e quando realmente vou saber de todos os detalhes
que me faltam.
Hora de retornar. Fiquem bem. E
se lembrarem de algo escrito nesse post, por favor mandar uma carta para o
futuro que assim volto em breve.
Beijos.
P.S. Estamos no dia 13 de agosto
de 2017. Domingo de sol. Estou teclando num objeto chamado portátil, vermelho.
Estou vendo a televisão. Um filme típicamente dominical. Canal Antena 3,
Espanha. Meu gato, Johnny dorme no sofá ao lado.